Tradução/ Translation

sábado, 7 de agosto de 2010

MAIS (Missão de Apoio à Igreja Sofredora)

Lindo o trabalho dessa instituição: http://www.maisnomundo.org/

12 de julho de 2010Um comentárioEscrito por: mario

O HAITI 6 MESES DEPOIS…

O dia 12 de Janeiro de 2010 configurou a data mais trágica da história do Haiti, talvez aquele dia que os haitianos, se pudessem, não incluiriam no calendário. O terremoto de 7 pontos na escala Richter dizimou mais de 250 mil pessoas (quase o total populacional somado dos municípios de Cascavel e Toledo) e deixou desabrigados outros 2 milhões de indivíduos. O país dissolveu-se. O mapa da capital mudou: onde antes era rua tornou-se em pilha de escombros. Por vários dias Porto Príncipe ficou incomunicável e com pouco acesso a recursos básicos como água e alimentos. Caos. Desespero. Terror.

Nossa organização teve o privilégio de levar ajuda de igrejas e comunidades brasileiras para algumas regiões do Haiti. Temos viajado ao país com equipes médicas e de engenharia, tendo distribuído um total de mais de 40 toneladas de alimentos. Realizamos clínicas móveis, instalamos sistemas de água potável e já começamos a auxiliar na reconstrução de algumas poucas estruturas físicas. Temos estado no Haiti mensalmente, desde janeiro.

Por conta dessa experiência e dessas muitas incursões no país, quero aqui oferecer um breve relato do que vejo no Haiti seis meses depois do terremoto. Esse texto é confeccionado um pouco antes de se completarem 180 dias daquela que foi a maior catástrofe da história da ONU.

No centro de Porto Príncipe, a “cara de catástrofe” vai demorar para se desfazer; na verdade, o país não está sequer próximo de escapar da chamada condição emergencial. Tudo ainda é muito precário. Ainda vemos muitas características semelhantes ao que víamos em janeiro: jovens tomando água de poças de cimento, em função da pouca disponibilidade de água potável em face do calor insuportável; o desespero e a agressividade dos pedintes nas ruas – ainda não se pode portar comida em determinados locais; a condição de desnutrição dos habitantes dos acampamentos, principalmente no que tange às crianças; entre muitos outros dilemas. O desemprego é alarmante, e muito haverá de ser reconstruído para que haja reais oportunidades de trabalho e recuperação. Porto Príncipe consiste num grande assentamento de barracas, onde pessoas vagam durante o insuportável calor do dia e se escondem das chuvas e deslizamentos à noite.

A somatória desses dados macabros, alguns resultantes do terremoto, outros nem tanto, resulta em graves índices de desnutrição e doenças, além de influenciar diretamente as estatísticas da violência nacional. Aumenta o índice de estupros e assaltos sexuais no contexto dos acampamentos, o que faz proliferar uma diversidade de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Tivemos de levar do Brasil uma médica infectologista, especialista em HIV, em nossa última incursão. A Dra. Irene Bruinsma, holandesa radicada em Belo Horizonte, se reuniu com autoridades médicas locais vislumbrando a realização de projetos de prevenção e tratamento no país.

Apesar disso tudo, surge a esperança. Porto Príncipe já está bem mais limpa, com menos escombros. Já começa-se a notar algum movimento em termos de reconstrução física, mas ainda com a característica de muita madeira e pouca alvenaria. O medo não permite que os haitianos sonhem com qualquer forma de suntuosidade sob tijolos. Ainda há grande trauma psicológico no que se refere aos ambientes fechados: mesmo alguns que não perderam suas casas preferem morar nos acampamentos, simplesmente por temerem novos tremores. Pudemos ver grandes estruturas metálicas, estruturas pré-fabricadas com base em madeira e mesmo barracas feitas de lona especial.

Nota-se que alguns locais estratégicos já estão sendo edificados com prioridade, tais como órgãos públicos, escolas e hospitais. A maior parte dessas edificações parte da iniciativa das ONGs, da ONU e das igrejas. E tudo, repito, com pouca alvenaria. Vimos grandes escolas de madeira e grandes hospitais em tendas. Transitório? Sabe-se lá até que ponto. E quanto ao governo haitiano, este ainda apresenta pouca força para reagir.

A economia haitiana pode passar por algumas transições interessantes num futuro próximo. A administração deste processo consiste, por si só, num grande desafio. O mercado da construção civil naturalmente haverá de crescer, visto que o país apresenta obviamente tal demanda. A área da educação também pode representar boas oportunidades para os haitianos. Espero que a corrupção não vença a sede de reconstrução deste povo tão vibrante.

Nem todos compreendem bem o fato de ajudarmos o Haiti diante da realidade catastrófica de tantos outros lugares, incluindo o Brasil. A necessidade está em toda parte; sempre haverá demandas em todos os cantos da Terra. Mas, conforme afirmado por um cartoon americano, o terremoto fez surgir no mapa mundi uma nação chamada Haiti. As necessidades já estavam lá muito antes do desastre; o mundo é que estava cego quanto àquele contexto de pobreza generalizada bem na esquina da América. A comunidade internacional já deveria ter se voltado para aquele que poderia ser um império turístico e um centro de referência no Caribe. Com a ajuda de Deus, quem sabe ainda venha a ser.

* Mário Freitas carrega caixas e compra madeira para construção no Haiti. Ou seja, faz o que qualquer um poderia fazer.

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